sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
1ª Marcha Nacional Pela Igualdade
O amigo Eduardo Jorge do Blog Tetraplégicos de Portugal, juntamente com Miguel Loureiro que mantém o site Deficiente-fórum e Élio Castelo, organizaram a 1ª Marcha pela Igualdade que acontecerá no dia 11 de junho de 2001 em Lisboa. Veja abaixo, a mensagem de Eduardo:
Há mais de um ano que tento em vão, organizar uma marcha/desfile/manifestação nacional de pessoas com deficiência. Por várias razões, ainda não foi possível. Mas graças à ajuda dos meus queridos amigos, Élio Castelo, Miguel Loureiro e outros que trabalham no anonimato, desta vez vai acontecer. Vamos mesmo sair para a rua e contrariar a ideia generalizada de que não saímos, não actuamos.
A todos os meus leitores e amigos, deixo o convite para participarem e divulgarem por favor.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Projeto isenta de IPI compra de carro por Deficiente Auditivo
Atualmente, a lei garante o benefício para pessoas com deficiência física, visual, mental severa ou profunda, ou autistas, diretamente ou por representante legal. O texto também dá isenção para compra de veículos por motoristas de táxi.
Dificuldade de integração
Segundo o autor do projeto, há uma incoerência em não garantir aos deficientes auditivos a isenção prevista para outras pessoas com deficiência. "A dificuldade de integração [dos deficientes auditivos] à sociedade é penosa e notória", afirmou o parlamentar.
Crivella acredita que a proposta representa uma oportunidade para a correção dessa questão. "O elevado preço dos automóveis representa uma barreira econômica intransponível para o deficiente físico auditivo, necessitando de socorro do Estado para sua a integração social", explicou.
Renúncia fiscal
O projeto prevê que Executivo estime o montante da renúncia decorrente da alteração legal para cumprir as determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF - Lei Complementar 101/00). A isenção, pela proposta, só valerá para o exercício financeiro seguinte ao da aprovação do projeto.
Tramitação
O projeto tramita em regime de prioridadeNa Câmara, as proposições são analisadas de acordo com o tipo de tramitação, na seguinte ordem: urgência, prioridade e ordinária. Tramitam em regime de prioridade os projetos apresentados pelo Executivo, pelo Judiciário, pelo Ministério Público, pela Mesa, por comissão, pelo Senado e pelos cidadãos. Também tramitam com prioridade os projetos de lei que regulamentem dispositivo constitucional e as eleições, e o projetos que alterem o regimento interno da Casa., apensado ao PL 7699/06 , que institui o Estatuto do Portador de Deficiência e está para ser votado pelo Plenário.
Fonte: Jus Brasil (05/01/2011)
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Alunos surdos cantam, dançam e interpretam na aula de Arte.
TEATRO INCLUSIVO Na EM Severino Travi, alunos ouvintes e surdos exibem-se em palcos de festivais e outras escolas.
Há muito tempo, se fala em inclusão de crianças com deficiência nas escolas. Cenas como a da foto acima, porém, continuam sendo raras. Trata-se de um grupo de teatro escolar que mistura alunos deficientes auditivos com ouvintes. Na EM Severino Travi, em Canela, a 122 quilômetros de Porto Alegre, as atividades de Arte integram normalmente os surdos. A trupe teatral já participou de vários festivais, ganhou prêmios e sempre é muito aplaudida. Além disso, a garotada tem uma fanfarra - e todos concordam que o contato com as diferentes expressões artísticas ajuda a turma também nas outras disciplinas, sem falar na integração entre os alunos. A Severino Travi, no entanto, ainda é exceção.
Mas, ainda que o número de surdos matriculados em escolas regulares venha aumentando (só nos últimos dois anos, o crescimento foi de 21%, segundo o Censo Escolar), os próprios especialistas têm dificuldades em indicar boas experiências de ensino de Arte que incluam esse público específico. Para produzir esta reportagem, por exemplo, NOVA ESCOLA entrou em contato com todas as Secretarias estaduais de Educação e com dezenas de municipais. Nenhuma delas conhecia boas escolas para indicar.
Felizmente, há (sim) professores desenvolvendo bons trabalhos de Arte que incluem crianças e jovens que sofrem, em algum grau, com a deficiência auditiva. E, como acontece com as outras disciplinas, os resultados são sempre muito animadores. Os surdos estão mais habituados a gesticular e perceber emoções nos outros. Por isso, quando convocados a se expressar por meio de caras, bocas e movimentos do corpo, eles tiram de letra. "Para aproveitar melhor essa habilidade, é essencial explorar linguagens diferentes", diz Daniela Alonso, especialista em inclusão e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. "Para ficar no exemplo do teatro, é possível montar um espetáculo falado na Linguagem Brasileira de Sinais (libras), trabalhar com mímica ou mesmo criar personagens que não falam, mas interagem com os outros."
Basta lembrar que, antes de surgir a tecnologia que permitiu criar filmes falados, todo mundo entendia o cinema mudo. Nas artes visuais, a audição não costuma ser o sentido mais importante. E muita gente sabe que, para dançar, basta sentir a vibração da música (e não é preciso ouvir para sentir essa vibração). Nesta reportagem, você vai conhecer as histórias de três escolas que desenvolvem projetos de qualidade que incluem jovens surdos em atividades de teatro, dança e música. Afinal, como escreveu o russo Leon Tolstói (1828-1910), a Arte é mesmo "um dos meios que unem os homens".
Boas formas de usar o intérprete nas aulas de teatro
PROTAGONISTAS E COADJUVANTES Na EE Clarisse Fecury, em Rio Branco, alunos surdos participam normalmente das classes de Teatro do 5º ano. A garotada já fez peças sem diálogos, espetáculos de dança, cenas usando libras e montagens com falas. "Explorar as possibilidades permite que todos sejam protagonistas. Do contrário, os surdos só interpretam papéis coadjuvantes", diz Simone Araújo da Costa, a professora, que conta com a ajuda de uma intérprete.
Simone Araújo da Costa, da EE Clarisse Fecury, em Rio Branco, conta com uma ajuda especial em suas aulas de Teatro. Como ela tem quatro alunos surdos na turma de 5º ano, a intérprete Jardilene Lopes participa de todas as atividades preparadas pela professora. Tudo o que Simone ensina, Jardilene traduz para libras. Assim, ela ajuda as crianças com deficiência a acompanhar as tarefas, que são sempre diversificadas: peças tradicionais, outras só em linguagem de sinais e algumas com destaque para a dança. Tudo para permitir que os estudantes atuem em papéis diferentes e conheçam estilos diversos de encenar textos teatrais (leia mais na legenda da foto acima).
Vale lembrar que foi só em 2005 que entrou em vigor a lei que garante o direito de ter um intérprete na sala de aula. Mas outra mudança, dizem os especialistas, também foi fundamental para aumentar a participação dos surdos nas escolas regulares. "As famílias estão mais conscientes sobre as possibilidades dos filhos. Essa mudança de postura foi a grande responsável pelo aumento do número de matrículas", diz Maria Sílvia Cárnio, coordenadora de um grupo de teatro com surdos e docente do curso de Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo (USP). "Ser participante de uma manifestação artística melhora muito a visão que o aluno tem de si próprio. No palco, ele está no centro e se sente ainda mais integrado", completa.
No dia a dia, há outros benefícios importantes. O teatro auxilia também no aprendizado da Língua Portuguesa. "A leitura das peças melhora a escrita e ajuda a entender as regras gramaticais, a ampliar o repertório cultural e a desenvolver a oralização daqueles que conseguem falar", destaca Maria Sílvia. Em Rio Branco, todos têm muito contato com a língua escrita: ao apreciar montagens em vídeo, acompanham as histórias com legendas e, ao ler textos teatrais, aprendem a importância da pontuação para transmitir as ideias - como não existem pontuação e entonação em libras, aprender o português formal não é tão simples para os deficientes auditivos.
Ensinar música para surdos pode parecer muito difícil. Mas basta lembrar que Beethoven (1770-1827) se tornou um gênio do cenário erudito depois que perdeu a audição. Por não ouvirem, os surdos têm os outros sentidos mais aguçados, o que lhes permite, por exemplo, captar com relativa facilidade as oscilações geradas pelas ondas sonoras. É por isso que eles conseguem notar a aproximação de uma pessoa. E é essa vibração a chave para atividades com instrumentos em classe.
A EM Severino Travi, citada no início desta reportagem, faz isso há algum tempo com a garotada de 5º ano. O professor Rogério Heurich é também o maestro da fanfarra da escola, que conta com a participação de vários estudantes deficientes auditivos - quase todos eles tocam instrumentos de percussão.
No início, os gestos usados para reger se confundiam com os sinais de libras. Junto com o intérprete da escola, ele bolou um jeito diferente de reger e acabou com os problemas de comunicação (leia mais na legenda da foto da página seguinte). "A surdez não é uma barreira. Como esses meninos são mais sensíveis às vibrações sonoras, conseguem grande precisão na hora de usar a força", explica Rogério.
NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO A maior dificuldade do professor Rogério Heurich nas aulas de música era se comunicar: os sinais usados pelos maestros eram difíceis de entender para os jovens surdos da EM Severino Travi, em Canela, no interior gaúcho. Com o auxílio da intérprete, ele criou gestos especiais, misturados com libras. "Agora que o ano está terminando, eles nem precisam mais que eu aponte os erros. Às vezes, ajudam os colegas ouvintes a entrar no ritmo", orgulha-se.
Explorando as imagens para dançar
IMAGENS QUE VIRAM MOVIMENTO Primeiro, foram selecionadas imagens que inspiravam movimentos. Em seguida, os estudantes montaram uma sequência. Assim, as meninas surdas do CE Colemar Natal e Silva, em Goiânia, acompanharam as aulas de dança. "Os alunos podem inventar passos, analisar movimentos e pensar sobre o conteúdo, em vez de só copiar a coreografia", diz a professora Ana Paula Ruggiero.
Na dança, a oscilação do som também tem papel importante. A vibração da música ajuda a marcar o ritmo - assim como o sapateado ou a marcação num tambor. Mas há várias outras formas de trabalhar coreografias em classe. "Luzes permitem indicar tempos no espetáculo", lembra Ana Paula Ruggiero, do CE Colemar Natal e Silva, em Goiânia. Ela conta que, no começo, sofreu para se comunicar com os alunos surdos do 5º ano, pois eles confundiam os sinais de libras com movimentos que a professora queria ensinar. A solução encontrada por Ana Paula foi explorar o sentido da visão. Em vez de partir diretamente para exercícios corporais, ela utilizou algumas aulas para trabalhar com imagens que remetem a movimentos, escolhidas pelos próprios alunos (leia mais na legenda da foto da página à esquerda). Ao combinar com eles o que cada ilustração queria dizer, no contexto da montagem que o grupo estava fazendo, ficou mais fácil para todos. Em vez de gesticular, a professora espalhou os desenhos pelas paredes da sala, o que permitiu que a moçada seguisse os passos da coreografia ensaiada em conjunto.
"Pegar a foto de uma bailarina em cena e fazer com que os alunos apenas copiem não aproveita o poder de criação que eles têm. Até figuras abstratas podem ser trabalhadas com a turma desde que o professor atribua um sentido às imagens e avance nessa aprendizagem", afirma Lúcia Reily, especialista em Arte na Educação Especial da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo. Como você viu aqui, incluir crianças e jovens com deficiência auditiva traz vantagens para todos. Os surdos, que muitas vezes se fecham num grupo (pela dificuldade de se comunicar), passam a se integrar mais. Já os ouvintes têm acesso à linguagem de sinais, o que facilita o contato com os colegas. Nas aulas de Arte, que naturalmente favorecem as trocas, esse interesse em compreender o outro aumenta. Os professores entrevistados contam que os surdos ficam mais sociáveis e, ao descobrir novas formas de se expressar, passam a se interessar mais pelas outras disciplinas também.
Os Sotaques dos Sinais
Paola Ingles Gomes cursa a 8ª série em São Paulo numa tradicional escola municipal para deficientes auditivos no bairro da Aclimação, a Helen Keller. Como outros colegas adolescentes, costuma ir à festa junina promovida pelo Instituto Santa Teresinha, um evento que virou referência entre estudantes surdos de todo o país. Paola conversava com um amigo de outro estado numa dessas comemorações anuais quando, entre risos, sinalizou que ele era um "palhaço", um tolo. O sinal usado indicava uma bola no nariz, assim como usam os palhaços. O rapaz não entendeu a "gíria" e coube a Paola indicar o contexto da palavra, por meio de outros sinais. Casos assim se repetem a cada interação entre deficientes auditivos de regiões diferentes, mas que adotam a mesma gramática gestual adotada pela Libras, sigla para Língua de Sinais Brasileira. Nesse universo sem sons, há gírias, regionalismos e até mesmo o que podemos chamar de sotaques.
De fato, determinados termos possuem variações maiores ou menores quando "pronunciados" por gestos. Só a palavra "abacaxi", no sortido espectro de variantes em forma de gesto, tem ao menos cinco sinais diferentes em todo o país, com pequenas mudanças de movimentos entre os compartilhados por Bahia e Pará e os usados no Mato Grosso ou em Santa Catarina.
A Libras é reconhecida desde 2002 por lei federal (ver quadro). Tem como base cinco parâmetros: a direcionalidade (para onde as mãos e o rosto se dirigem), o ponto de articulação (de onde parte o movimento), a configuração de mão, o movimento propriamente dito e as expressões faciais e corporais. A variedade lingüística dos sinais ocorre, em alguns estados, quando se modifica ao menos um desses parâmetros.
- É como se houvesse uma "pronúncia" diferente. É um tipo de sotaque, só que sem som - afirma a lingüista Tanya Amara Felipe, professora da Universidade de Pernambuco (UPE) e coordenadora do Programa Nacional Interiorizando a Libras.
Dizer sem falar
Quase não existem pesquisas sobre variações regionais em Libras, mas já há base empírica para os estudiosos arriscarem configurações. A psicóloga Walkiria Duarte Raphael, uma das autoras do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira (Edusp, 2001), diz conseguir identificar um r arrastado nos sinais dos surdos cariocas.
- Eu, lidando com os diferentes sinais, percebo que no Rio eles soletram mais arrastado, embora não exista estudo com base científica sobre o assunto. Os surdos que oralizam bem [que reproduzem com os lábios as palavras sinalizadas] acabam falando junto com o sinal. E aí também se consegue perceber o sotaque. É possível sentir claramente isso, no sinal - diz.
Embora não haja equivalência entre o verbo e os gestos de cada lugar, os sotaques dos sinais parecem acompanhar as sutilezas das falas de cada região. Para Walkiria, é possível perceber a diferença regional pela observação da mão de apoio - é comum que os surdos destros façam o movimento com a mão direita e a esquerda sirva de suporte. No Rio de Janeiro, segundo a estudiosa, a maioria dos sinais é feita com a mão de apoio fechada. Em São Paulo, a mão de apoio é aberta.
- Essa é uma diferença que notei quando estava juntando os sinais para o dicionário. Isso pode ser considerado um sotaque? Pode - diz Walkiria.
Sueli Fernandes, lingüista , assessora técnico-pedagógica do Departamento de Educação Especial da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, concorda:
- Sejam faladas ou sinalizadas, é próprio das línguas a pluralidade de manifestações. A unidade lingüística é um mito mesmo na linguagem por sinais - analisa a profissional, que também é colaboradora do Libras é Legal, projeto de difusão da língua coordenado pela seccional do Rio Grande do Sul da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis-RS).
Ambiente virtual
Os alunos surdos da escola Helen Keller (da esq. para a dir.) Lidiane Francisca de Souza, Paola Ingles Gomes, Ricardo Paulo Maranhão e Mônica Amoroso: troca de gírias com estudantes de outros estados
Coordenadora do curso a distância de Letras-Libras na Universidade Federal de Santa Catarina, único nos moldes no país, a lingüista Ronice Müller de Quadros mantém contato com 500 alunos de nove estados no ambiente virtual. Desse total, 447 são surdos. A quantidade de sinais variantes é tão grande que eles criaram um glossário para padronizar aqueles usados e criados no curso.
- Dá para identificar quem não é de Santa Catarina pela variação dos sinais, e pelas diferentes expressões faciais e corporais - conta.
Ela lembra que os falantes do Rio de Janeiro costumam usar muito o alfabeto manual na comunicação. Ou seja, no lugar do sinal, em muitas situações, o termo é soletrado. Característica que não é típica dos usuários de São Paulo, segundo Ronice.
- Os surdos do Norte do país se apóiam bastante nas expressões facial e corporal. O tamanho do sinal é maior, ocupa mais espaço. Mas essa diferença não tem implicação no significado do sinal. Manaus, por exemplo, é um dos pólos em que os estudantes apresentam mais variações. Talvez pelo fato de estarem muito distantes - analisa.
Mas nem sempre os surdos encararam com bons olhos o contato com sinais de outras regiões. No início da produção da primeira edição do dicionário, a psicóloga Walkiria Raphael - que atualmente trabalha na segunda edição do livro (ver quadro) - percebeu que diante de um termo diferente os surdos tendiam a dizer que aquele sinal estava "errado". Hoje, as variações são mais aceitas.
- A própria comunidade surda tinha uma rixa. Daí a resistência dos surdos que estavam nos ajudando, na elaboração do dicionário, de incluir sinais que não são usados em São Paulo. Tínhamos de convencê-los de que aquele sinal era representativo para determinada região. Havia bairrismo - diz.
Se no caso do sotaque os sinais envolvidos têm diferenças sutis de estado para estado, no caso dos regionalismos, ao contrário, as mudanças são totais. A linha de pensamento é a mesma da palavra "mandioca" com suas variações "macaxeira" e "aipim". A mesma palavra, "abacaxi", tem sinais muito diferentes, como os de São Paulo e os do Rio de Janeiro. Dá pra dizer então que os sinais regionais são aqueles que representam a mesma coisa só que com ponto de articulação, movimentos, direcionalidade e expressões faciais, todos diferentes.
- Quando comparamos sinais usados por jovens surdos e surdos idosos, nas associações, por exemplo, percebemos mudanças na forma e no conteúdo dos sinais, por vezes até condenados pelos mais velhos que se orgulham de utilizar "sinais puros", sem a interferência do português, tal como o fazem as gerações atuais.
Nova geração
O atual cenário educacional é responsável por uma revolução na cultura surda. No passado, o isolamento era grande. Os sinais eram passados de geração a geração e se restringiam à representação do cotidiano, nada muito específico. Hoje, a presença no ambiente escolar tem estimulado a criação de muitos novos sinais, já que há disciplinas e termos técnicos, além de permitir o contato do estudante com os sinais de outras regiões. A estrutura que, nesse processo, mais tem sido renovada são os substantivos.
- Sinais vêm sendo criados, simultaneamente, em diferentes regiões, para atender às necessidades de conceituação e comunicação, repercutindo na ampliação do léxico. A especificidade das disciplinas e seus objetos de estudo requer um vocabulário técnico sinalizado que, enquanto não padronizado, contribui para a fomentação dos regionalismos - analisa Sueli Fernandes.
Algumas instituições de ensino que têm salas mistas - com alunos surdos e ouvintes - já estruturaram equipe para apoiar o contato entre professor e estudante durante as aulas. Sidney Feltrin é tradutor e intérprete de Libras há 12 anos. Há dois, ele trabalha com mais seis profissionais na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), que tem sete alunos surdos.
- Todos os sinais criados em sala de aula são encaminhados à Feneis para que sejam disseminados e adotados nas demais universidades do país, criando assim um padrão - conta.
Sinais de guetos
Além da linguagem mais técnica e específica, a escola ou faculdade coloca o deficiente auditivo em contato com outros grupos que não a própria família e os colegas. Só esse fator é responsável pela criação de mais uma penca de novos sinais usada no bate-papo dos corredores. Na escola municipal Helen Keller, em São Paulo, os jovens do ensino fundamental e do médio têm suas próprias gírias, muitas vezes variando de sala para sala, de panelinha a panelinha.
É inegável que a língua portuguesa acaba por determinar a constituição de vários elementos semânticos, estruturais e discursivos da língua de sinais. Isso não deixa de acontecer também no universo das gírias. É o caso do xingamento "palhaço", usado pelos alunos da escola com o mesmo sentido da língua portuguesa. Na Helen Keller, os estudantes também criaram seus próprios sinais para Orkut e MSN (programa de conversa on-line).
Assim como no português, a língua de sinais também registra os idioletos, ou seja, as maneiras únicas no modo de falar ou sinalizar de um indivíduo. Diferenças de idade, escolaridade, maior ou menor contato com a comunidade surda, tudo isso aumenta a diversidade de sinais.
- Todos os usuários da Libras conseguem comunicar-se uns com os outros e entendem-se bem, apesar de não haver sequer dois que façam sinais da mesma maneira - explica a lingüista Lodenir Becker Karnopp, também professora do curso Letras-Libras na UFSC.
Nesse mar de sinais e variações, quem não é surdo pode pensar que o entendimento entre os deficientes auditivos de estados diferentes fica quase impossível. Basta lembrar a quantidade de palavras usadas na língua portuguesa e suas variações, tão criativas quanto as dos sinais.
- Há, sim, uma tentativa de padronização das associações de apoio ao surdo. Há muitos sinais que já são padronizados e usados em congressos, por exemplo. Mas é preciso respeitar a diversidade - comenta Walkiria Duarte.
A mesma diversidade, aliás, que torna a Libras e a língua portuguesa admiradas pelos seus usuários.
História da Libras
A primeira instituição brasileira criada para apoiar a alfabetização dos surdos foi o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), criado por D. Pedro II, em 1857. Dezoito anos depois, em 1875, foi publicado o primeiro livro com os sinais usados por aqui, o Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos, de Flausino da Gama. O autor utilizou os mesmos sinais franceses, colocando a tradução em português. Daí a influência da língua francesa de sinais na brasileira.
- Esse sinais do livro deveriam ser usados concomitantemente com outros já usados no Brasil naquele período [1875].
Provavelmente havia dois sinais e um "vingou". Pude observar em viagem aos Estados Unidos que há sinais do livro de Flausino que são usados pela ASL [American Sign Language], o que comprova o parentesco lingüístico entre as três línguas - analisa a lingüista Tanya Amara Felipe.
Quase um século depois, em 1969, estudiosos descobriram que no Brasil há outra língua de sinais usada pelos índios urubus-caapores, do Maranhão, que têm elevada taxa de surdez (1 surdo para cada 75 ouvintes).
Naquela década também foram publicadas, por iniciativa estrangeira, mais duas obras sobre os sinais brasileiros e que por muitos anos foram usadas no ensino de sinais: Linguagem das Mãos, de E. Dates; e Linguagem de Sinais do Brasil, de H. Hoeman. Ambas muitos influenciadas pela ASL.
Só na década de 80 é que estudos mais aprofundados em lingüística foram feitos. Nessa época, constituíram-se as principais instituições de apoio ao surdo. São Paulo e Rio de Janeiro influenciaram os sinais dos outros estados por terem sido os pioneiros no estudo do tema.
Foi em 2002 que o governo federal reconheceu a Libras como língua. Com a lei, a educação inclusiva dos surdos passou a ser obrigatória nas escolas públicas de todos os níveis. Dados do Censo 2000, reunidos pelo IBGE, indicam que dos 5,7 milhões de brasileiros com algum grau de deficiência auditiva, pouco menos de 170 mil se declararam surdos.
Dicionário de Libras vai incluir sinais regionais
Publicação com quase 12 mil verbetes terá dois mil sinais só para palavras e expressões que variam de estado para estado
Antes da publicação do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira (Libras), em 2001, pela Edusp e apoiada pela Feneis, não havia registro oficial da linguagem gestual ensinada a surdos no Brasil. Os materiais existentes estavam espalhados pelo país em apostilas produzidas por associações de apoio ao deficiente auditivo. Uma realidade bem diferente da de outros países, como os Estados Unidos, onde há algum tempo já existem dicionários do gênero.
Seis anos depois, e com a menção honrosa na categoria Educação e Psicologia do Prêmio Jabuti conquistada em 2002, os autores do trabalho, os psicólogos Fernando Capovilla e Walkiria Duarte Raphael, preparam a segunda edição do dicionário. A previsão de lançamento é para o começo de 2008. Mais dois mil verbetes de sete estados serão incorporados ao catatau que já havia reunido 9,5 mil sinais, divididos em dois volumes. Será inserida a soletração do verbete, além da indicação dos lugares onde aquele sinal é usado.
No início da pesquisa, os autores se reuniram com um grupo de 14 surdos da Feneis-SP, que passaram cada sinal e seu significado. A meta nessa segunda etapa é "aumentar o vocabulário em português e o léxico em sinais", como explica Walkiria Raphael. Confira trecho de entrevista com a estudiosa:
Língua Portuguesa - Quais as dificuldades para montar o dicionário?
Walkiria Raphael - O surdo não se baseia nos verbetes escritos, mas no conceito, o contexto. É muito comum quando um ouvinte pede a um surdo soletrar uma palavra, como "essencial", e ele perguntar o que é. Depois de entender o contexto, aí, sim, ele faz o sinal referente. Outros surdos podem empregar um sinal diferente para "essencial", mas que contenha o mesmo sentido. Além do regionalismo nos estados, em São Paulo há grupos de jovens que criam seus próprios sinais, como no resto do país, aliás. Não dá para abarcar todos os sinais. Outra dificuldade é que não há uma correspondência tão direta entre o sinal e a palavra. Nós tivemos muito cuidado para fazer essa tradução.
Há sinais que já caíram em desuso?
Sim. Do primeiro ao segundo dicionário, já notamos isso. Mas a gente resolveu manter. É como no português: ainda encontramos termos que não existem mais, mas estão lá. O próprio sinal de Libras já mudou. Ainda assim, o outro sinal não deixou de ser usado. Como há pessoas que só conhecem as versões antigas das palavras, preferimos não eliminar esses termos.
As gírias surdas
Por Sueli Fernandes
A aluna Paola Ingles Gomes sinaliza gíria que só existe na Libras: termo pode indicar mau humor, surpresa ou até constrangimento
As gírias são a parte mais interessante do discurso em Libras. É justamente nele que se manifesta o universo metafórico da língua, no qual os sinais são "manipulados" de forma a seduzir, enganar, disfarçar, determinar... Testemunhamos o riquíssimo universo da polissemia e polifonia da língua da forma mais rica e diversa, em um contínuo de relações e situações determinadas pelo contexto, pelas expectativas dos interlocutores.
Existem muitos exemplos corriqueiros, bastante conhecidos nas línguas faladas, em que se usam gírias para se referir a garotas ou rapazes bonitos: "gato", "gostosa", "de cair o queixo"; ou quando precisamos informar necessidades fisiológicas como: "ir ao banheiro", "fazer xixi", "apertado" etc. Sejam faladas ou sinalizadas, as gírias são semanticamente bastante semelhantes nesses casos.
O que mais fascina na Libras são os artifícios usados pelos surdos para escapar dos olhos dos demais membros do grupo, em momentos em que necessitam endereçar mensagens subliminares, ou secretas, a algum interlocutor. Pela visualidade que é inerente à sinalização, inúmeros sinais "discretos" são criados, reduzindo-se o espaço da sinalização ou o ponto de articulação de modo a não deixar pistas aos bisbilhoteiros.
Por exemplo, se em uma roda de adolescentes surgem temas tabus como sexo ou masturbação, é comum que eles modifiquem os sinais usados convencionalmente. Da mesma forma, se uma menina quer confidenciar a outra que vai menstruar e há meninos por perto, ela muda a forma de sinalizar, usando um sinal "disfarçado". Quando se quer falar de alguém que está presente, usam-se mecanismos conversacionais de indicação disfarçada ou relações espaciais em que se estabelece uma localização neutra no espaço para o "dito cujo", mesmo que ele esteja presente, passando-se a enunciar indicando aquele ponto no espaço, sem que ninguém saiba de quem, exatamente, se fala.
São fartos, também, os exemplos de gírias que têm como sentido "tô nem aí com você", "qual é a dele?", "você me sacaneou", "tá me enrolando", "fiquei com o rabo entre as pernas", e assim por diante, que nada têm a ver com os sinais convencionais. Alguns são até modificados para a adequação discursiva.
Outros sinais são "intraduzíveis" isoladamente, pois uma mesma forma pode indicar inúmeros sentidos a depender do contexto. Um exemplo é o sinal em que a configuração de mão com o dedo médio colocado no topo da cabeça, acompanhado de uma expressão facial característica (mau humor, surpresa), pode significar "tô na minha", "que mico", "tô boiando" e assim por diante.
Enfim, a riqueza da Libras repousa justamente nesses elementos que chamaríamos extralingüísticos nas línguas faladas, mas que constituem a estrutura gramatical, semântica e discursiva da língua de sinais: movimentos de sobrancelhas, jogo de olhares, menear de ombros e de cabeça, "balanço" ao sinalizar, leveza ou ênfase no movimento, duração do olhar ou do movimento no ar, maior ou menor amplitude do espaço de sinalização. Ou seja, um universo quase desconhecido para aqueles que ainda não experimentaram constituir sentidos com palavras-imagens.
Sueli Fernandes é lingüista, assessora técnico-pedagógica do Departamento de Educação Especial da Secretaria de Estado da Educação do Paraná e colaboradora do projeto Libras é Legal.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
sábado, 15 de janeiro de 2011
Multi-trilhas
I CONGRESSO DE EXPERIÊNCIAS EXITOSAS EM EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS
Convenção e Exposição de Negócios dos Surdos
Convenção e Exposição de Negócios dos Surdos
Data: 8 a 12 de junho de 2011
Local: Washington – Estados Unidos
Site: http://deafbusiness.org/
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Videofones no aeroporto de facilitar viagens para deficientes auditivos
As cabines de videofone inovador, na maioria das vezes instalados em escolas de surdos e centros de acesso à comunidade, fazer a comunicação entre os surdos e de audição da comunidade e do mundo audiência mais fácil do que nunca.
Como isso funciona:
Para usar uma cabine de videofone, uma surdos ou com deficiência auditiva de cada um entra em uma cabine privada com uma Sorenson VP-200 videofone conectado à uma Internet de alta velocidade e televisão. Ele ou ela entra o número de telefone da pessoa que está sendo chamado de audição. Através do Serviço de Retransmissão de vídeo Sorenson, um intérprete qualificado ASL - American Sign language (Língua Americana de Sinais) aparece na tela, conecta as pessoas e retransmite a conversa entre eles. O partido que recebe a chamada audição usa uma linha telefônica padrão.
XVI Congresso da Federação Mundial dos Surdos Durban 2011, África do Sul 18 - 24 de julho de 2011
Olá amigos e amigas...
Abraçaos,
Astronauta manda a primeira mensagem em língua de sinais da Estação Espacial Internacional
Por Carlos Hayashi
Site: Libras.Info
Fonte:http://www.libras.info/2010/07/astronauta-manda-primeira-mensagem-em.html
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Jornal Visual 04/01/2011
Skype
Fonte da imagem: Skype.
Na Consumer Electronics Show do ano passado a Skype demonstrou que poderia oferecer seus serviços em televisões com conectividade à internet. No evento deste ano a empresa foi mais além, e anunciou que consolidou parcerias com a Sony e a Vizio para implementar seu software de comunicação nos modelos Bravia e VIA TVs, respectivamente.
Nenhuma das empresas envolvidas divulgou qual a data para lançamento das televisões compatíveis com videochamadas. De acordo com a Skype, “em breve” será possível adquirir os novos modelos de TVs interativas. Boatos indicam que a Sony Bravia que executa a ferramenta de videoconferência chega nas lojas em fevereiro de 2011.
Vale lembrar que já existem aparelhos que suportam a tecnologia de comunicação de voz sobre IP, conforme você pode observar no próprio site do serviço de comunicação.